Governança corporativa em tempos de transformação digital, ágil e social

Precisamos retornar aos “princípios fundamentais”, em vez de vagar em direção às “melhores práticas”.

Guhan Subramanian

Governança é um tema importante, sobretudo em tempos de mudanças sociais e tecnológicas cada vez mais aceleradas. Nunca, os princípios de transparência, equidade, prestação de contas e, sobretudo, responsabilidade foram tão importantes. A aparente instabilidade do tabuleiro competitivo só tem aumentado a dificuldade e a ansiedade em manter o equilíbrio entre agentes externos e internos às organizações.

A evolução tecnológica e social, junto com grandes oportunidades, traz consigo ameaças potenciais. Na medida em que o ritmo percebido da mudança é acelerado, mais notável torna-se a necessidade de estruturas de supervisão e suporte as decisões de forma a proteger valor não apenas para shareholders, mas todos os stakeholders.

Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas.

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC

A pandemia do novo Corona Vírus (COVID-19) revelou quão frágil são nossas estruturas operacionais, afinal, um número significativo de negócios beiraram a paralisia. Além disso, ficaram evidentes o despreparo das cadeias de suprimento e a incompetência digital de boa parte dos membros de alta gestão. Ir do quase sempre presencial para totalmente virtual em apenas alguns dias fez ficar evidente problemas com cybersecurity, proliferaram vazamentos de dados, aumentando a sensação de vulnerabilidade.
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Nesse contexto de incertezas, entendo que entramos na era da honestidade intelectual assegurada por governança corporativa, onde as lideranças precisam estar abertas a conhecer e entender múltiplos pontos de vista, confiando e verificando, de maneira mais próxima, dados e fatos apresentados pela gestão. Mais do que nunca, precisamos questionar “verdades absolutas” e desafiar o “jeito certo de ontem” de fazer as coisas.

Precisamos de modelos ágeis, em escala corporativa, para aprendizagem continua, disseminando e absorvendo inovações, mitigando vulnerabilidades e respeitando as transformações sociais, buscando maximizar a geração e mitigar os riscos de destruição de valor. Ou seja, governança, em sua perspectiva mais nobre, nunca foi tão necessária.

O que é “Governança Corporativa”?

Além da definição de governança corporativa já apresentada, proposta pelo IBGC, muitas outras foram indicadas ao longo dos últimos anos. A maioria delas reforça a necessidade de proteger os interesses dos investidores (fontes externas de capital), garantindo que as organizações operem em conformidade (compliance) com parâmetros expressos nas intencionalidades estratégicas.

A governança corporativa lida com as maneiras pelas quais aqueles que aportam capital nas empresas asseguram de que conseguirão obter um retorno sobre seu investimento.

Andrei Shleifer e Robert Vishny

De fato, o desequilíbrio de poder, gerado principalmente pela diferença de influência nos resultados no dia a dia, demanda a adoção de intrumentos e mecanismos que promovam alguma equidade. Entretanto, essa perspectiva, modernamente, parece simplória e precisa ser ampliada.
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A governança corporativa é, em grande parte, um conjunto de mecanismos pelos quais os investidores externos à gestão das companhias se protegem contra a expropriação por aqueles que atuam em seu dia a dia.

Rafael La Porta, Florencio Lopez de Silanes e Robert Vishny

A estratégia bem definida pode ser expressa como um padrão coerente de tomada de decisões adotado por todos na organização. As práticas de governança criam um ambiente que favorece a executivos e colaboradores a adotar a estratégia, cumprindo regras e agindo eticamente. Fora dos limites da empresa, para agentes externos – como sócios, credores, parceiros, fornecedores e clientes – a governança assegura transparência, responsabilidade e sustentabilidade.

Por que adotar “Governança Corporativa”?

O propósitio básico das boas práticas de governança corporativa é proteger o valor das organizações ao longo do tempo, maximizando-o e mitigando riscos. Para isso, gera estímulos positivos para que decisões sejam tomadas, sempre, visando o melhor para a empresa e para o ecossistema onde ela existe no logo prazo. A governança corporativa protege as organizações de surpresas desagradáveis originadas por condutas ou decisões infelizes daqueles que impactam a operação e distribuição equitativa de direitos, deveres e responsabilidades a todos os sócios.
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De fato, por exemplo, muitos dos escândalos corporativos que ganharam repercussão nos últimos anos, nacionais e internacionais, tiveram origem na tendência pouco sadia, incentivada por políticas ingênuas de remuneração de executivos, de maximizar resultados no curto prazo, em detrimento do longo prazo. Tratam-se de exemplares claros de falhas na governança.

Sob o ponto de vista tecnológico, outro exemplo, vemos muitas organizações apenas “digitalizando” seus modelos operacionais, com ensaios ainda muito tímidos de modernização de seus modelos de negócios. Em tempos de transformação digital, o fato é que boa parte das organizações estão apenas, no melhor dos casos, buscando evolução. Pura miopia! O maior risco é o confronto com o disruptivo e a clara ignorância da criticidade.
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Sob o ponto de vista social, vemos muitas organizações com dificuldades para entrar em compasso com os anseios da sociedade. De fato, o tratamento equânime e respeitoso, independente de raça e gênero, ainda é mais discurso do que prática. Desastres ambientais ainda são frequentes. Os limites entre marketing hipócrita de posicionamento e o engajamento real ainda são turvos.
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Em termos práticos, a governança corporativa bem aplicada estimula, direta e indiretamente, o incremento saudável dos resultados, financeiros em empresas com fins lucrativos, minimizando o risco percebido, o que maximiza o valor das organizações e os benefícios para a sociedade.

Principais “alavancas” da “Governança Corporativa”

As práticas de governança corporativa podem ser aceleradas ou paralisadas, nas organizações, por algumas “alavancas”. Destaca-se, acima de tudo, o conselho administrativo (quando este estiver definido). Depois, vem a estrutura de capital e atuação dos acionistas/investidores, sistemas de remuneração, forças competitivas e regulações.

Em qualquer cenário, quem for guardião da intencionalidade estratégica – missão, visão e valores – será também dos sistemas de governança. Em empresas com um conselho administrativo constituído, essa será sua atribuição intransferível. Logo, o conselho administrativo (guardião da intencionalidade) é a primeira e mais importante alavanca organizacional para a implementação da governança corporativa.

Na sequência, há a estrutura de capital e a atuação dos acionistas/investidores. Em empresas com grande concentração acionária, ou seja, onde poucos sócios concentram a maior parte da propriedade, estes se configuram como grandes “alavancas”. Já em empresas com baixa concentração acionária, onde a propriedade é pulverizada, o poder desloca-se para as mãos de executivos profissionais.

Sistemas de remuneração, incluindo metas e métricas relacionadas a resultados financeiros também constituem importante “alavanca” pois podem estimular e acelerar ou dificultar e retardar práticas de governança, por razões óbvias.

Na sequência, destacam-se as forças competitivas indicadas por Porter, ou seja, concorrentes, parceiros, clientes e novos entrantes. Afinal, dependendo da “agressividade” e do dinamismo competitivo, mais fáceis ou difíceis são as implantações de algumas medidas.

Finalmente, regulações, representam o interesse do poder público sobre as atividades de uma organização e devem ser respeitadas.

Tecnologia, sociedade e agilidade como elementos transformadores.

Processamento, armazenamento e conectividade são três vetores tecnológicos comuns em modelos de negócios e operacionais disruptivos e exponenciais. Não há como falar em valor no longo prazo sem considerá-los, logo, devem ser íntimos dos interessados pela boa governança.
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Três vetores do crescimento exponencial

O ritmo da mudança, percebido por todos, nunca foi tão intenso. Novidades tecnológicas surgem todos os dias e tem ficado cada vez mais difícil identificar o que é presente e o que é futuro. Entendemos que há três vetores determinantes sustentando esse fenômeno. As ditas organizações exponenciais são, essencialmente, aquelas que conseguiram desenvolver modelos de negócio vinculados a esses fatores.

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De maneira semelhante, o progresso das relações sociais, sobretudo na valorização emergente de todos os gêneros, raças e credos, exigem revisões urgentes na conduta e no significado dos propósitos das empresas.

O ritmo acelerado das mudanças, não só tecnológicas, como sociais, demanda das organizações agilidade (não confundir com pressa, embora alguma não faça mal). Nesse contexto, a própria governança corporativa precisa ser ágil.

We’ve long believed that when the rate of change inside an institution becomes slower than the rate of change outside, the end is in sight. The only question is when.

Jack Welch

Empresas modernas precisam não só entender a mudança como algo inevitável, mas como oportunidade. Bem aplicada e entendida, a mudança é, veradeiramente, oxigênio para o crescimento. O incrível é que a adoção do novo começa pela disciplina para executar os fundamentos.

Esse é apenas o começo de uma grande e bela jornada

Gostamos muito da ideia de dar passos consistentes na direção certa, o tempo todo. Nesta introdução, tentamos consolidar impressões sobre governança corporativa, incluindo significado, relevância e “alavancas”. Nos próximos capítulos, vamos apresentar, além de algumas “boas práticas” , provocações que consideramos fundamentais em tempos de transformação digital, social e ágil que estamos vivendo.

// TODO

Antes de avançar para o primeiro capítulo, recomendo as seguintes reflexões:

  • Reflita sobre as práticas de governança corporativa que você tem presenciado. O que tem funcionado? O que não tem gerado os resultados esperados?
  • Você consegue relacionar, hoje, algumas práticas e ferramentas e práticas de governança em sua organização?

 

Referências bibliográficas

IBGC. Governança Corporativa. 2021. Disponível em: https://exco.me/ibgc. Acesso em: 26 dez. 2021.

SILVEIRA, Alexandre di Miceli da. Governança Corporativa no Brasil e no mundo: teoria e prática. 3. ed. Vinhedo, Sp: Virtuous Company, 2021.

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Elemar Júnior

Fundador e CEO da EximiaCo, atua como tech trusted advisor ajudando diversas empresas a gerar mais resultados através da tecnologia. 

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